A escritora que mora em mim
Mora em mim uma escritora. Uma escritora que adora escrever sobre qualquer coisa, especialmente opiniões, pensamentos e sensações. Essa escritora que fica adormecida de tempos em tempos — agora mesmo está hibernando, querendo acordar de um sono profundo, mas ainda sonolenta e sem jeito. As palavras me fogem dos dedos, a cabeça pensa com lentidão o texto. Ainda assim, eu escrevo. Porque a escritora que mora em mim precisa se expressar.
Releio meus textos antigos — blogs que mantive desde a vida adulta — e admiro a jovem jornalista-escritora que versava sobre cultura, política, que escrevia crônicas e se expunha em textos confessionais. Consigo resgatar no fundo do meu peito a sensação dessa jovem jornalista — a insegurança, o medo do julgamento, a sensação constante de “será que este texto tá bom o bastante?” e me orgulho da sua capacidade em vencer as dúvidas e escrever. Escrever para viver, escrever para entender. Escrever para ser.
Cada pessoa tem seu mecanismo particular, sua forma exata de existir no mundo, suas necessidades, seus desejos. Eu amo escrever. E sei disso desde muito nova. Convivo com uma síndrome da impostora desde a adolescência — a ideia de que apesar de amar escrever, eu não sou “boa o bastante” para ser uma escritora.
Hoje, aos 35 anos, mãe de duas crianças, com anos de terapia, dona de uma empresa de eventos criativos bem-sucedida, eu posso dizer: eu sou uma boa escritora. Sempre fui. Relendo os textos antigos percebo o talento nas palavras da menina que queria acertar. A menina que queria parecer inteligente, culta, bem articulada. E era tudo isso. Mas não reconhecia em si todos estes talentos.
Ainda que eu possa admitir meu próprio talento nessa fase da vida, a insegurança me acompanha. Se antes a desculpa era falta de preparo, hoje ela é “falta de tempo”. Falta tempo na rotina como empreendedora e mãe para treinar a escrita. E é aí que os dedos enferrujam e as palavras me fogem. Mas eu insisto. Persisto. Continuo digitando. Palavra por palavra. Até que o texto chegue ao fim. Fim.